sábado, 24 de março de 2012

Coluna do Nariz #01: Cores



Tava olhando uma foto antiga de Brasília, década de 70. Um estacionamento, quase vazio. Notei as cores dos carros: branco, uns dois tons de azul (um claro e um próximo do roxo), um mostarda. Só. Nada de amarelo, azul brilhante, vermelho-cabeça-de-pica, rosa-xota. Não era tempo de frescura, de babaca tentando aparecer com carro alegórico de quatro rodas. Nada de perua filha da puta com carrinho da moda. Os Gordinis, os Fuscas, os Sincas Chambord do Marcelo Nova. Nada de design fruta.



Naquela época nem existiam patrocínios em camisa de futebol. Imagine, então, um time usar outra cor. Meu time é preto e branco. Até outro dia, só usava preto e branco. Cinza nas meias de vez em quando. Aliás, o número era diferente, o que dá pra aceitar. Mas aos poucos o bolo de merda foi sendo formado. Começou com patrocínio.

O primeiro era preto e branco. A falta de tons fazia sentido. O segundo começou com a palhaçada. Duas cores. Cores. Nunca me desceu aquilo. E ainda tinha cor do rival do bairro ao lado (Urca, Praia Vermelha...salve Tim Maia). Mas era um só.

Agora, parece que eu torço pra porra de uma equipe de Fórmula 1. Ou pior, porque se tu pegar uma foto do macacão da Ferrari, vai ver que a Thammy Gretchen usa quase só vermelho, branco e amarelo. Já eu, tenho que ver patrocínio de qualquer cor, patrocínio até no cu dos jogadores. O famoso esquema puta barata: pagando, rola o que você quiser.

Porcos desgraçados que foderam nosso futebol. E foderam com a mente dos torcedores. Agora, quem reclama é xiita. É romântico. É doente (sim, "torcedor doente" agora é ofensa!). Mas também, agora até ir pro estádio todo jogo é coisa de gente sem-noção.

Bonito é torcer por quatro times da Europa e dois do Brasil, sendo os dois lá da puta-que-pariu. Bonito é homem usar uma camisetinha apertada, listrada e com gola em V no umbigo. Bonito é ter um cabelo de palhaço, parecendo um espanador e pintado de laranja.

E eu nem vou falar de estádio. Não hoje.

Nariz. Beque e médico. Rompe as canelas pra depois arrumar.

O texto postado acima não é da autoria de Álvaro Lopes Cançado, o Nariz, e nem condiz com seu modo de pensar, (até porque ele não chegou a experimentar a atual realidade do futebol). O nome da coluna é apenas uma homenagem. E não condiz necessariamente com o pensamento do autor.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Danish Spirit



18-9-2011. Estádio Olímpico João Havelange.

Estava bastante afastado do estádio, mais de um mês, acho. A grana estava curta. Resolvi deixar pra voltar num clássico...se fosse pra faltar grana, seria em uma partida menos relevante. Enfim, isso tudo não importa por aqui. O legal foi com o que me deparei dentro da "arquibancada". Entre aspas, porque arquibancada pra mim não pode ter cadeira.

Cheguei um tanto em cima da hora, e a arquibancada Norte já estava "cheia". Não cheguei a ver o grupo de turistas chegando. Mas me diverti bastante com eles, assim como os outros que lá estavam.

As dinamarquesas são lindas, isso é algo pouco contestável. Eu olhava para o grupo e não conseguia achar uma que fosse feia. Mas eles são meio ruins de vibração. À exceção de um ou outro mais animado(talvez bêbado), se portavam como em um teatro. Aliás, é engraçado como a Dinamarca não tem clubes fortes, apesar de sua seleção ter alguma tradição. Mas esse também não é ponto em questão.

A questão realmente bacana foi descobrir a sensação maravilhosa que é explicar a realidade do meu futebol aos estrangeiros. Meu inglês é fraco, mas mesmo assim foi o suficiente para tal missão. No caso, a guia, carioca, foi bastante esperta, e fez uma "barreira" com idosos e homens, colocando as garotas bonitas no centro. Mas tal situação não me incomoda, estádio nunca foi lugar de arrumar mulher.

Calhou de eu ter ficado a partida toda conversando com uma coroa. Seus belos olhos azuis eram de uma grande simpatia, e ela mostrava muita atenção pelo que eu falava. Quando o jogo iniciou, porém, minha postura obviamente se tornou hostil, voltando ao normal no intervalo. Falei sobre o Loco Abreu, pensando ser essa a saída mais fácil me fazer entender. Nada, a nórdica sequer sabia sobre a Copa. Falei um pouco sobre copas antigas, pra explicar sobre o Garrincha, que ela igualmente não conhecia.

Não era pelo gênero, pois na Dinamarca a seleção feminina é boa. Eles simplesmente não se importam com futebol, acho.

Surgiu o gringo maluco, gritando os cantos que ele compreendia(ou achava que compreendia). Deram-lhe uma bandeira, uma camisa e dois chapéus, o cara vestiu e posou para foto, e no final ganhou em definitivo a bandeira. Coisa de carioca, acostumado que é com os turistas.

Um cara bandeirou sobre o grupo, brincando. "Gar inch a", a senhora dizia tentando repetir minha fala.

Mas o intervalo estava terminando, e eu voltei para a insanidade.Só poderia ser entendido pelos gestos e coreografias universais. Em um momento o jogo parou, e ainda pude explicar que aquele era um "town's derby". Considerou o público grande, os poucos mais de 20 mil pessoas. Tomou um susto quando falei dos públicos do velho Maraca. 

Eles saíram antes do fim do jogo, para evitar confusão. Eu fiquei na vontade de trazer mais gringos pra dentro do estádio. Quem sabe pro futuro.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Longa espera em Édson Passos

3-9-2011.Estação Édson Passos, Mesquita.

Era véspera de mais um ato da FNT contra o Ricardo Teixeira, e eu fui fazer uma panfletagem no Edson Passos. Era a abertura da Copa Rio, América x Madureira. Saí atrasado, e cheguei no fim do primeiro tempo.

O representante da FERJ havia mandado fechar o Giullite Coutinho. Ou seja, não conseguiria entrar, mesmo estando com o dinheiro do ingresso. E eu não era o único, outros foram barrados na entrada. Se os jogos já não tem muito apelo midiático, assim fica ainda mais difícil atrair público...

Entrei escondido, quase ao término da partida. Mas meu gosto por conversar tornou a espera na estação especialmente interessante. Outro gosto deste que vos escreve é de conversar com a "velha guarda". Eram três(o grupo era um pouco maior).

Uma senhora, que já havia cruzado certamente a casa dos 70, me contou sobre como torcedores levam aos mais novos o espírito do futebol.  No colégio próximo ao estádio, um grupo de contadores de histórias(existe inclusive um nivelamento por experiência e conhecimento) contam "causos" do América. "Edu Coimbra é o ídolo dessas crianças", me dizia ela. Eu como historiador, e com a veia do ensino, fiquei verdadeiramente fascinado. Tempos atrás cheguei até a sugerir ao "capo" da Ultras 1936(barra-brava do Auto) executar a mesma idéia em João Pessoa.

Fica a a dica aos leitores...como diria o baixinho de Cão de Briga(Unleashed), "pegue eles pequenos, e as possibilidades são infinitas".

Estavam lá mais dois senhores. Um, por volta dos 80 anos,me emocionou bastante ao tirar da carteira um recorte de jornal, acho que de 2011 mesmo,  com 3 americanos nas arquibancadas. Só. Ele era um. O rebaixamento era certo. Junto do outro coroa, esse bem mais novo e com um filho da minha idade, discorreram sobre as dificuldades de se encontrar produtos do time, e que por isso mesmo todos os lançados vendiam bem. Algo sobre variedade versus quantidade.

O homem era do início, acho que mesmo um dos fundadores da Torcida Inferno Rubro. Não vem ao caso falar de organizadas, mas eu achei muito bacana um caso que aumentou sua fama. 

Em um jogo contra o Fluminense, o América fora goleado. Hoje em dia isso não é (americanos que me perdoem) tão assustador, mas nos anos 80 era um resultado extremamente notável. Ainda mais no primeiro tempo. Enquanto os "amargos" saiam no intervalo, o cara pegou uma bandeira e foi para trás do gol, no espaço do Maraca reservado a eles. Por 40 minutos bandeirou, como me disse, bandeiras belas que hoje em dia não se vê entre a torcida do Diabo. Deu uma boa repercussão. Também falou brevemente das viagens e confusões Brasil à fora...

Surgiu um torcedor do Madureira e Fluminense, e ouviu um sermão homérico sobre "ter apenas um time no coração".

Mas claro, aquela era uma estação de trem. A Supervia controla elas. Alguma surpresa tinha que ter. Durante todo esse papo, um trem passou. Fechou no meio do nosso pequeno grupo, violenta e mesmo perigosamente.  Nisso, separaram-se de nós a senhora contadora de histórias, o tricolor misto, mas principalmente, separaram-se o pai e seu filho. Tudo bem, o cara não era uma criança. Mas mesmo assim, foi uma dor de cabeça violenta, porque cada trem demorava muito pra chegar. 

Tenho que voltar àquele estádio, conversar...

segunda-feira, 5 de março de 2012

O Racing de Ipanema


 
 
3-3-2012. Praia de Copacabana.
 
Estava eu em um quiosque em Copacabana, antes uma apresentação do Quinteto Solar, no qual meu pai é baterista. Enquanto o pessoal ia se aprontando para começar, eu fiquei olhando a orla.

Eu gosto do Rio de Janeiro em todos os seus pormenores, mas convenhamos, é realmente uma maravilha de cenário aquela praia. Até porque o céu escuro havia afastado os farofeiros e os turistas fanfarrões.

Ao longe, vi uma bandeira alvi-celeste. "Racing", dizia a parte de baixo. A de cima estava dobrada, e assim permaneceu por todo o tempo(e as muletas me impediram de me aproximar mais). Minha imaginação foi à mil.

Logo pensei num amistoso do Racing de Avellaneda com um time local. Meu pai me trouxe sua câmera, para que eu batesse umas fotos do som. Mas ela estava sem pilhas. Já não aguentei mais de curiosidade, e fui ver do que se tratava.

Chegando próximo, comecei a notar uma coisa estranha. Argentinos negros? Argentinos mulatos? Não, aquilo não era bem o que eu havia pensado. Talvez alguns jogadores tupiniquins pudessem estar no clube hermano. Sempre a imaginação fervilhando. E um pouco de esperança, também, porque não?

Mas no fim vi que o momento foi muito mais interessante. O jogo? Era oficial, acho...o juiz pelo menos se vestia como tal. Pelo que me disseram, era um campeonato de favelas (porque "comunidade" é nome moderninho e glamourizador). O time? " Ipanema Racing". O cara da foto? Alguém que estava na reserva, próximo a mim. Me pediu para eu não fotografar o rosto, em tom jocoso. Mas convenhamos, não faria sentindo capturar parcialmente o momento

Ipanema Racing, futebol de areia. Não tem nada mais carioca que isso.

Mais à frente havia um Juventus. Mas esse era clube de peso europeu, clube de Uefa Champions League. Não consegui ver tanta graça.
 
 
Juro que estava escrito "Ipanema" na faixa de cima...