quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Eu não quero brigar nessa noite...

21-12-2012. Do alto do meu computador terrivelmente desgastado.

Fim de ano chegando, quase próximo do natal. Portanto, eu também vou dar uma de Papai Noel e deixar aqui meus presentes, que são as minhas indicações de blogs. Alguns eu vou adicionar à minha barra lateral, outros, por serem voltados a um clube em especial, vou deixar apenas como sugestão no post. Vamos a eles...

FC Santa Claus, da segunda divisão finlandesa

Kuay Floy - Membro do grupo de rap Pura Mente Gangsta e dono de um domínio ímpar na arte de escrever, o curitibano General VII destila um conteúdo forte em seu blog, porém com uma classe digna de um lorde inglês, ou um nobre florentino, como eu imagino que ele prefira. O conteúdo se foca em 3 principais pontos: rap, cerveja e futebol. Tudo escolhido cirurgicamente, só o melhor. Somam-se a eles algumas ótimas indicações musicais além-rap, e alguns textos que com seu teor voltado à direita (textos aos quais por vezes eu discordo veementemente) , acabam sempre por gerar alguma polêmica. Eu, que gosto de ver o circo pegar fogo, faço questão de sempre compartilhar.

Mundinho Insosso - Este já não é um blog tão "polido". Provavelmente a minha maior incentivadora para investir na escrita (seja isso algo bom ou ruim), a juiz-forana Sarah Barquete tem um estilo ranzinza com o qual me identifico bastante, exalando rancor. Ela, que se diz esquisita (o que também não sei dizer se é algo ruim), também mantêm outro blog, o http://sarahbarquete.wordpress.com/.

FotoTorcida - Blog do fotógrafo Gabriel Uchida, mostra em imagens a realidade das torcidas, sobretudo paulistas. Não há muito o que ser dito, o conteúdo fala por si.

Forza Palestra - Este blog, escrito pelo Rodrigo Barneschi, foca em especial o Palmeiras, mas vale à pena conferir seções como "O país do fuebol?" e "Geração Winning Eleven". Os textos não são doces, como não é o torcedor mais humilde que vai ao estádio. Portanto, não entre esperando uma discussão "madura". É revolta, pura e simples.

Fala Torcedora! - Este blog, escrito pela Monique Torquetti, ainda está no início, mas considero promissor. É voltado à realidade das mulheres dentro dos estádios, e principalmente dentro das torcidas organizadas. Tenho certeza que alguns amigos e amigas que acompanham o blog irão se interessar.






quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Vencedores

13-12-2012. Ali perto do Amarelinho, na Cinelândia.

2 anos. Lembro como se fosse ontem do João Hermínio Marques
, no nosso primeiro contato fora da internet, me entupindo de formulários para assinar. Na época, por uma questão de burocracia, me lembro de ter entrado temporariamente como vice-presidente da FNT, cargo que hoje não ocupo e que nem me imagino ocupando, por sinal. No final das contas, me tornei o diretor nacional de pesquisa, função que também preciso exercer com mais força, assim que minha saúde plenamente permitir.

Lembro também das primeiras reuniões. Na primeira que fui, estávamos apenas nós dois e o Stéfano Novais, com sua camisa do Cosmos. Confesso que em um primeiro momento fiquei um tanto frustrado. Logo descobriria o primeiro desafio que tínhamos para encarar: não ser mais um movimento de internet. Um desafio e qualquer um que queira lutar por um Brasil melhor, nesses tempos digitais. E ao ver milhares de pessoas marchando pedindo a cabeça do Ricardo Teixeira, com a liderança da Frente, em 3 das principais capitais brasileiras(Rio, São Paulo e Porto Alegre); ao ver rivais históricos como Grêmio e Internacional, Corinthians e Palmeiras se manifestando em seus clássicos, todos juntos pela queda de uma ditadura do esporte...é, acho que conseguimos parte desse desafio. Daria pra colocar um estrela sobre o escudo da FNT, pela queda do ditador da CBF.

"Fora Ricardo Teixeira", 30 de julho de 2011. 


São lutas demais. A luta pelo Maracanã está sendo algo homérico. Mas não há quem me convença que não está sendo grandiosa. Colocar o nome da Frente em escala internacional, no maior site de torcidas do planeta, ao mesmo tempo em que a poderosa rede globo nos trata como baderneiros e marginais em seu jornal da madrugada. Isso pra mim é uma vitória. Trazer a pirotecnia de volta à realidade torcedora, dentro dos protestos, e assim reafirmar mais uma de nossas lutas, ah, isso certamente é vencer e vencer lindamente. Não posso prever o futuro, não sei dizer se venceremos o campeonato. Acredito sinceramente que sim. Mas uma coisa eu já não mais acredito, pois é um fato consumado, não é questão de se acreditar ou não: temos vitórias memoráveis. Daquelas com 2 jogadores a menos em campo, daquelas viradas totalmente improváveis.

Seria injusto marcar apenas alguns aqui. Mas faço questão de cumprimentar aos amigos que fiz nestes dois anos de FNT. Aqueles do Rio de Janeiro, aqueles que conheci no primeiro encontro nacional, em SP, e no segundo, aqui na minha terra. Cumprimento também aqueles que conheci pela internet, dentre os quais tive oportunidade de conhecer pessoalmente parte dos curitibanos, em um momento de empatia ímpar, que só me fez cada vez mais e mais conhecer os companheiros de ideais com os quais apenas tive contato pelo mundo digital.

"O Maraca é Nosso", 1º de dezembro de 2012. Foto: Luis Felipe Capellao.


Os próximos anos serão de crescimento, isto me parece mais que claro. Mais e mais torcedores tomam consciência de que este não é o nosso futebol, de que as coisas estão erradas. Torcedores de todos os clubes do Brasil percebem que apenas uma maior participação deles na política interna de suas agremiações vai conseguir mudar os rumos delas. O povo está retomando a sua paixão, em passos que parecem curtos, mas são largos em comparação aos igualmente longos anos de estagnação. A luta é difícil. Mas ganharemos mais e mais campeonatos. E a vitória será por todos. Todos sairão com os louros, com os "troféus simbólicos", com as estrelas no peito.

Enquanto escrevo isso, troveja na cidade maravilhosa. Que seja uma chuva para lavar a alma dos cansados, pois não á tempo para se acomodar. É levantar a face em direção ao horizonte de glórias que nos aguarda.

Parabéns à Frente Nacional Dos Torcedores. Parabéns a cada um de nós, e aos que se juntarão a essa luta. Tenho certeza de que serão muitos.


P.S.: Decidi não fazer deste um blog para divulgação de protestos e notícias, mas os 2 anos da FNT merecem uma menção honrosa.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Vá perguntar ao seu freguês do lado...

Qualquer noite. Qualquer bar.

Que me perdoem os meus amigos que lêem meu blog de outras regiões do país, mas permitam-me aqui ter um breve momento de bairrismo. O motivo de eu haver iniciado o blog, foi obviamente pelo fato de eu imaginar que o futebol na minha cidade possúi alguma coisa única, no âmago de suas arquibancadas. Mas não só nelas. O futebol para o carioca tem algo de diferente. Esse é o bairrismo pelo qual peço desculpas logo na abertura do texto: o bairrismo de considerar o carioca como o povo que mais gosta do esporte bretão, dentro desse país chamado Brasil.

Claro, vão me apontar os públicos mediocres nos jogos. Não acho que esse seja o espaço para esse debate, mesmo porque, tenho outros argumentos para pautar minha opinião que pouco passam pelas arquibancadas. Não precisam ficar assustados. É isso mesmo que vocês entenderam. E digo mais: isso em nada afeta meu discurso contrário ao do futebol moderno, esse futebol altamente midatizado, elitista e artificialmente comportado, como se todos precisássemos de uma Super Nanny, como se não fôssemos jovens ou adultos com o mínimo de consciência.

O carioca ia ao Maracanã para ver futebol. Não precisava nem ser do time dele. Pelo menos era assim nos tempos da geral. E isso não quer dizer que o torcedor ia lá para torcer, contra ou a favor de um adversário. Qualquer amante do futebol apreciaria ver um Romário em seu auge. Lembro-me por exemplo de ver ele marcando 3 gols no meu time, no meu primeiro jogo em minha até então breve vida de torcedor. E querem saber? O cara era muito bom!

Mas isso se prolonga ainda mais, meus caros. Na cidade do Rio de Janeiro não se vive o futebol em 90 minutos, 180 numa semana. Durante os sete dias que se passam, o carioca apreciador de futebol não consegue, ao sair na rua, passar uma hora inteira de seu dia sem fazer menção a este digníssimo esporte. Talvez 30 minutos. Seja parando na frente da banca para observar as transações do mercado da bola, seja ao ver um torcedor com a camisa do time que segue e fazer aquele comentário de apoio. É uma coisa muito natural, talvez até pelo excesso de interatividade que o morador dessa cidade tem. Todo mundo tem que ser íntimo, e o que une mais pessoas de diversas classes sociais do que o futebol?


http://zota.com.br/site/wp-content/uploads/2009/06/100-charge_roda_de_boteco.jpg

Uma mesa de boteco no Rio de Janeiro é uma coisa única. É possível se passar meia hora falando de futebol, com pessoas que pouco assistem os jogos pela tv, e nunca frequentam estádios. Tudo isso sem se tornar forçado, sempre numa eterna brincadeira.

E quem já esteve aqui sabe o número assombroso de botecos no Rio.

sábado, 24 de novembro de 2012

Coluna do Nariz #02: Fair Play




Agora a moda é o tal do "fair play": se um filho da puta se joga e fica rolando que nem uma moça no meio do campo, tem que chutar a bola pra fora. Tem que esperar o atendimento. Só se for um tratamento de psiquiatra, pra ver se o cara para de querer aparecer. Ou então um tratamento de choque, umas porradas numas divididas pra ver se aprende. Daqui a pouco vai precisar até disso: treino de dividida, pra ver se eles param de medo de ter canela roxa.

Isso é culpa dessa palhaçada de categoria de base demais. Não bastasse a molecada inventar de tudo pra ficar agindo feito uns adultos em miniatura, agora até o futebol tá dominado por essa merda. É um bando de garoto cagão, que só joga se for em sintético, ou no salão. Que me desculpe o salão, tem meu respeito, mas pra mim é outro esporte...não rola, não dá. Aí tu fica aí, cheio de jogador querendo fazer firulinha em espaço pequeno, e não sabendo driblar num campo de futebol de verdade, um drible que progrida. Drible desnecessário, pra humilhar o adversário, tu só dá se tiver muito culhão. Ou se for um bosta querendo aparecer. E os que tem culhão pra isso sempre foram poucos. Tá faltando é futebol no barro, na calçada, umas tampas de dedo arrancadas, uns ralados. Uma preparação na dureza mesmo, pra separar os meninos dos homens, pra TRANSFORMAR os meninos em homens.

Categorias de base pra crianças: treinando hoje o  
bunda mole de amanhã


O pior é você ver zagueiro que treina mais se atirar no chão do que desarme, porque o time dele é uma bosta. Cai e mata o contra-ataque no choro (porque na bola é difícil). E se o atacante saca a palhaçada e ignora, tenta fazer o gol (que é o trabalho dele, porra!), vem a legião dos superamigos do jogo limpo e do futebol amiguinho. Os mesmos otários que dizem que a rivalidade é bobagem, que xingar o adversário é feio, que faixas ofensivas vão transformar o estádio num campo de guerra. Seus merdas, o futebol não é pra vocês! O dia em que eu for pra um clássico e não xingar meus rivais, me internem, porque certamente eu estou extravasando esse estresse em cima de outra pessoa.

Eu quero é ver mais jogador tentando fazer gol ou defender mesmo que esteja todo fodido. E certamente, quero ver menos cuzão rolando em campo como se fosse a porra de um filme de bangue-bangue, mancando até a saída de campo e voltando a "ficar inteiro" no segundo seguinte.

O texto postado acima não é da autoria de Álvaro Lopes Cançado, o Nariz, e nem condiz com seu modo de pensar, (até porque ele não chegou a experimentar a atual realidade do futebol). O nome da coluna é apenas uma homenagem. E não condiz necessariamente com o pensamento do autor.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Não existe Divino. O nome é Madureira.

17-11-2012. Estádio Aniceto Moscoso.

Já comentei com alguns colegas meus, que meu trabalho de conclusão de curso na faculdade terá como tema a história da formação do Madureira Esporte Clube. Era até um tanto vergonhoso o fato de eu nunca ter visitado a agremiação, e o estádio da rua Conselheiro Galvão. Acabei por conhecer o local na torcida de um time adversário, o Bangu, incentivado pelo amigo da Frente Nacional dos Torcedores, Alexandre(cuja bela tatuagem do alvi-rubro de Moça Bonita pode ser visto abaixo).




Como é quase uma tradição, acordei tarde e não acompanhei o trajeto da torcida ao jogo. Fica para oura oportunidade. Vi que o horário estava muito adiantado (praticamente acordei no horário combinado em Bangu), e preferi ir direto à Madureira. E fui brindado com um pouco mais dessas maravilhas de espontaneidade que só os trens do Rio de Janeiro, em despeito da baixíssima qualidade do serviço da Supervia, podem nos oferecer. Na Central, junto comigo, entraram três homens que claramente não eram brasileiros. Eles portavam instrumentos, e logo que começaram a tocar, vimos que se tratava de mais um grupo de músicos peruanos, vendendo seus cds. Também naquela estação, entrou um grupo de jovens, indo aparentemente para alguma festa, se considerar as roupas que vestiam. E entre os dois grupos, ocorreu uma coisa que dificilmente se verá em outra cidade: uma jam entre dois países, de uma maneira totalmente popular e muito descontraída. Claro que o pessoal cantava brincando com os peruanos. Mas meu pai, baterista, sempre me dizia quando novo: "não existe brincadeira melhor que a de música". Dentre músicas gospel e fusions entre ritmos indígenas e pagodes e funks cariocas famosos, o que reinou mesmo foi a alegria suburbana. Apenas pude ver uma garota, cujas vestimentas a deslocavam completamente do cenário, colocando a mão na cabeça e mostrando-se irritada durante o processo. Mas mesmo o namorado dela, vestido igualmente de forma pouco habitual para o espaço, gostou do ambiente, tanto é que comprou o cd vendido pelos peruanos. Aliás, muitos compraram. Aparentemente, a "união Brasil e Peru", gritada por um dos garotos que ajudara no coro, deu certo.




O bairro de Madureira também me apresentou um clima muito acolhedor. Claro, acolhedor do meu ponto de vista carioca. É um lugar barulhento e repleto de pessoas, e que não é o primor dos asseios. Mas desde o primeiro momento sorri, ao ouvir o anúncio do churrasquinho da passarela sob a estação de trem. Era gravada, com imitações de famosos como Roberto Carlos e Paulo Henrique Amorim. Até desliguei o som que ouvia no celular, para ouvir a rua, com seus anúncios em caixas de som, tão altos que a qualidade se estourava completamente. Havia experimentado esta sensação apenas no SAARA, mais ao centro da cidade. Ambos os lugares eu gostei.




Os Orixás protegem o Mercadão de Madureira, e dão mais vida ao local.
De atrasado passei a adiantado. Andei pelo Mercadão de Madureira. Destaco neste momento apenas duas características (mas que em outro momento podem facilmente render mais linhas). Primeiro, é a grande miscelânia de lojas. Por um corredor, pude ver uma sequência de lojas de produtos para cultos afro-brasileiros e aviários, intercalados. Eram galinhas, exus-caveiras, patos e chapéus panamás(desses últimos gostaria de ter um exemplar num  futuro próximo), todos ali, juntos. O outro ponto, esse negativo, foi o de eu não ver uma camisa sequer do time de futebol no mercado que o patrocina. Só achei uma, durante todo o trajeto até o clube, em uma banca. E claro, dentro do próprio(também uma loja com muitas falhas no mostruário e estoque).
Portela de um lado, Madureira de outro.




Dentro do estádio, confesso que fiquei um pouco decepcionado. Claro, gostei muito de ver um estádio com grades e sem fosso, no qual os torcedores podiam vociferar qualquer coisa para juízes e atletas. Mas foi triste ver cadeiras onde apenas deveria haver cimento nas cores vermelha, azul e amarela (três cores que por sinal são extremamente recorrentes nesta região do bairro, assim como o carinho dos moradores para com o clube local). Mas era um local muito agradável, pra quem gosta do bom e velho futebol como deve ser feito. Lamentei também a pouca presença da torcida do tricolor suburbano, em um jogo tão decisivo. A torcida do Bangu, por sua parte, apresentou bom público (mas que também acredito que deveria ser maior, levando em consideração o seu tamanho), algo entre de 150 e 200 apaixonados.

Aqui, ainda com menos presentes, antes do início da partida.


O jogo foi emocionante. Por conta do primeiro jogo ter sido um empate, o jogo seria decidido com qualquer vitória simples, e outro empate, por qualquer placar, os levaria aos pênaltis. Prefiro assim, ao modelo que pretendem implantar no campeonato carioca de 2013, com o time de melhor campanha passando à final, sem disputas de pênaltis caso não ocorram empate nas  campanhas. E esta beleza de ocasião foi o destino da partida. Após um jogo repleto de reviravoltas, o Bangu abriu o placar e o ampliou, mas assistiu o Madureira igualar o placar com tremenda apatia no segundo tempo da partida. A quinze minutos do fim, no entanto, o que vi foi um jogo digno de uma disputa de mata-mata. Bolas de extremo perigo em ambas as metas, com leve vantagem para as do visitante, que esquentaram, tal qual o forte sol que despontava dentre as escuras nuvens de chuva, o sangue dos presentes para a decisão nos tiros livres.



Aqui cabe a nota mais trágica do evento. Alguns banguenses tentaram acender pirotecnia, e foram reprimidos pela Polícia Militar, que ameçou até detenção. Tudo por causa de fogos mais que inofensivos, e ao meu ver de pouca graça (sou fã da pirotecnia que enfumaça toda a arquibancada e bordas do campo). Por sorte, por meio de alguma conversa, os torcedores que tanto cantaram durante o tempo regulamentar, puderam ver o Bangu ganhar a partida, em um derradeiro pênalti após um chute no travessão dado por um jogador de Madureira. Pobre Lamartine Babo, não imaginaria que ao escrever "estouram foguetes no ar" no hino oficial daquele clube, seria reprimido em pleno século XXI.

Rostos cobertos apenas por precaução, já que pode se esperar de tudo do nosso estado...
Polícia levando os periculosos meliantes



Cabe um pequeno destaque também para o camisa 4 do Bangu, um zagueiro "raçudo pra caralho", nas palavras do camarada que me apresentava a torcida. Mesmo saindo machucado, foi extremamente presente durante a preparação para os pênaltis, dando força ao elenco e muita atenção e apoio (em reciprocidade e retribuição) à torcida. Outro jogador se machucou, esse de forma tanto bizarra quanto dramática: chutando a bola pro gol em um dos pênaltis convertidos pelos visitantes. Saiu em sua maca, com o nome gritado.

Momentos agradáveis. Pretendo repetir mais vezes.

Abaixo, algumas fotos do estádio, uma sugestão de outro amigo da FNT, o curitibano Fernando, do Kuay Floy, após algumas garrafas de cerveja.


domingo, 11 de novembro de 2012

Se as crianças estão juntas...

6-5-2012.Estádio Olímpico João Havelange.

As viagens de trem na cidade do Rio de Janeiro são de uma singularidade ímpar. Não sei de outra cidade brasileira com um sistema de trens tão duradouro e ainda tão importante. A grande periferia carioca, os ditos suburbanos, convivem todo dia com a realidade dos vagões barulhentos, mal cheirosos. Lembro da primeira vez que andei em um, eu que era para fins práticos um jovem curitibano(cidade na qual, até o presente momento, os ônibus são o único transporte público), e justamente estava indo para um jogo. Um primo meu ria do meu espanto com o trem fantasma.

Ambulantes entram para vender o mais variado tipo de artigos, desde os simples doces até brinquedos e o que pode soar estranho para quem não é daqui, até kits de costura, com linhas e agulhas. Simples leis do mercado. A senhora que trabalha fora(nada como a falta de dinheiro para tornar a mulher automaticamente "independente"), e no fim do dia descobre que o uniforme das crianças está rasgando, de tão velho. Não há tempo pra ir atrás de material para resolver o problema. Nesses casos as "joelheiras" de couro, costuradas sobre a calça da escola, acabam sendo uma alternativa recorrente também. Famoso jeitinho brasileiro, empurrando com a barriga até a coisa ficar possível de ser resolvida.

Estação do Engenho de Dentro, saída de um jogo pouco movimentado (menos de 30 mil pessoas).


Como diz um professor meu, é interessante analisar o rosto das pessoas que desembarcam na Central do Brasil(sim, aquela do filme, que é tão ou mais caótica do que fora mostrada nos cinemas). Todas modorrentas, num desânimo de contagiar. O pobre é muito trabalhador. Só sendo assim para se ter a paciência de viajar por horas em condições degradantes, todos os dias. Curioso é o contraste destes momentos com os dia de futebol no Engenhão: sempre cheios de ânimo, ou mesmo revolta, mas invariavelmente com reações firmes. Mais interessante ainda são as oportunidades em que os dois grupos se encontram, especialmente nos jogos nas tardes de quarta feira. Pelos problemas que merecem ser tratados à parte em outra postagem, não é de se espantar(mas de se indignar) que a carga de trens tenha sido quase a mesma que a de todo dia, mesmo com um evento de grande público no dia. Não vou dar uma de classe-média chorona, que só reclama quando a coisa respinga nele, mas é algo a se pensar para um país que pretende abrigar no Engehão a maior parte do atletismo em 2016. 3 horas de trem lento e lotado, para ver o Usain Bolt chegando rapidamente e solitário na frente do mundo.

Mas como falei, isso é assunto pra mais que um parágrafo. O que eu realmente gosto de pensar são nas histórias vividas dentro dos trens. Sim, porque toda aquela atmosfera da velha escola, com a cerveja na frente do estádio, os relatos dos coroas, a marra de alguns mais novos, a alegria da juventude que só quer errar(há coisa mais divertida e animadora que errar?), tudo isso também tem o transporte público como grande elemento. Principalmente no Rio de Janeiro, com a tradição da Zona Sul de deixar o carro em casa e ir de metrô pro Maracanã, de trem pro Engenhão. Outros estádios são um caso à parte.

E neste contexto, eu me lembro com carinho da passagem curta que conto agora. Estava eu seguindo para o clássico, encostado na janela. Não sou o maior dos conversadores no trem, a não ser que esteja com algum amigo; meu lado social fica mais exposto nos arredores do estádio. Mas eu sou muito observador, não que esta seja uma característica sempre positiva. Em um destes momentos, ouvi uma criança cantando uma música de estádio. Olhei. Trajada à caráter, o menino errava toda a letra, e por horas, percebendo, cantava um "lalala" nos trechos não decorados. Talvez com ingressos mais acessíveis(coisa não vista por essas bandas), ele já estivesse respirando o clima do estádio. Ou não, porque nessa fase o jogo é pura brincadeira. Não há preocupações com o resultado, o choro de um dia rapidamente se esquece no outro. Reparei que outros pequenos também se agarravam aos pais, com as cores de seus times. Me alegra. Que homem, torcedor, não tem sonho de levar uma criança(sobretudo meninos, já que por mais que se saiba que essa paixão está acima desta questão de gênero, a sociedade faz questão de mal ver as meninas que se incluem em tal ambiente viril), não sonha em lhe apresentar as cores de sua vida? Eu não almejo ter filhos, pelo menos não na minha visão de mundo atual. Mas esse seria um ponto muito positivo. Um moleque pra ficar cantando a letra errado, assoprando ou balançando algum instrumento barulhento, pra balançar uma bandeirinha de camelô.


sábado, 7 de abril de 2012

Torcendo de Muletas

Quebrei a perna dia 21 de outubro do ano passado, e desde então tenho penado bastante para ir à jogos de futebol. E, apesar de agora estar mais tranquilo no andar de muletas, o princípio foi bastante complicado. Abaixo, o texto que escrevi sobre esta experiência:



24-2-2012.Estádio Olímpico João Havelange.

Meus pés, o fixador da minha perna(lembra uma antena de tv) e as duas muletas. Como podem ver, quase não sobra espaço para movimentação. 


Finalmente me sinto suficientemente tranquilo, física e mentalmente, para descrever o que foi a minha experiência com as muletas no Engenhão.

Assim que cheguei ao estádio, achei que a coisa ia ser moleza. Cheguei pela entrada Oeste (aquela das estátuas), e pedi ajuda a um funcionário do clube. Engraçado, que na situação que me encontro, as pessoas se mostram mais prestativas. É uma pena que seja por compaixão, porque acredito que esse tipo de tratamento devesse rolar sempre.

Na hora da revista, o policial foi muito bacana comigo, "pela primeira vez na televisão". Ele nem quis ver a minha mochila, mesmo que ali estivessem ingredientes para o preparo de um coquetel molotov.

Aí então o funcionário me surgiu com uma cadeira de rodas. Não, no estádio não há elevador, ao menos não faz sentido que haja, já que tive que ser levado naquelas rampas íngremes. Me imagino descendo da Oeste Superior, voando mais que o Vin Diesel com seu carro à nitro...mas sem uma parada suave.

Quando entrei, porém, consegui chegar ao cúmulo, de passar a odiar ainda mais as cadeiras em estádio. Não havia caminho para passar. Eu batia a muleta nos lados, e tinha que virar o corpo em uma grande manobra, por conta daqueles corpos estranhos a um estádio de futebol. Quem me dera o Engenhão tivesse aquele cimentão do Maraca, cheio de espaço. Teria me deslocado numa facilidade extrema. Ou pelo menos que as cadeiras não tivessem a printura da Brahma, que as torna muito mais escorregadias e as impossibilita como apoio para as muletas.
 

No intervalo, nova decepção. Desci para me alimentar, pois andar de muleta me deixa faminto. Rampas e mais rampas. Falha minha, poderia ter usado as escadarias do setor Norte, que apesar de terem um valentão de braços cruzados em seu caminho a atrapalhar minha passagem, mostravam também inúmeros irmãos de bancada me dando uma ajuda tremenda.

Mas o pior não foi a grande descida de rampas. Foi chegar no meu destino e ver um sistema pra passar cartão inativo. Modernidade em que, só na hora de matar nosso prazer de ver um jogo a moda antiga?

Na volta, no entanto, algo me foi elucidado: um porque de as cadeiras estarem me atrapalhando. Tragicômico.

Um policial me apontou o setor de cadeirantes. Na concepção dele, seria muito melhor para mim assistir o jogo lá de trás, acima de tudo, num lugar reservado pra mim. Longe de torcida organizada, longe de bagunça, de bateria, de confusão. Longe dos gritos de raiva a cada passe errado, longe das comemorações a cada gol de minha equipe. Longe da vida no estádio.

Se eu quisesse essa inclusão exclusiva, eu assistiria sentado na porra do meu sofá! Cadeirante tem que ter mesmo espaço reservado. Reservado no meio da galera. Pra cantar com o coro. Pra ser levantado na hora do gol.

Voltei pro meu lugar, onde fiquei até o final. Orgulhoso de ficar em pé o jogo todo, aliviado de ao menos não precisar pagar ingresso. Aliás, esse é um aviso aos amigos leitores: se você estiver com a perna quebrada, não paga ingresso. Não é uma regra, mas é algo bem aceito, pelo menos aqui no Rio de Janeiro.



sábado, 24 de março de 2012

Coluna do Nariz #01: Cores



Tava olhando uma foto antiga de Brasília, década de 70. Um estacionamento, quase vazio. Notei as cores dos carros: branco, uns dois tons de azul (um claro e um próximo do roxo), um mostarda. Só. Nada de amarelo, azul brilhante, vermelho-cabeça-de-pica, rosa-xota. Não era tempo de frescura, de babaca tentando aparecer com carro alegórico de quatro rodas. Nada de perua filha da puta com carrinho da moda. Os Gordinis, os Fuscas, os Sincas Chambord do Marcelo Nova. Nada de design fruta.



Naquela época nem existiam patrocínios em camisa de futebol. Imagine, então, um time usar outra cor. Meu time é preto e branco. Até outro dia, só usava preto e branco. Cinza nas meias de vez em quando. Aliás, o número era diferente, o que dá pra aceitar. Mas aos poucos o bolo de merda foi sendo formado. Começou com patrocínio.

O primeiro era preto e branco. A falta de tons fazia sentido. O segundo começou com a palhaçada. Duas cores. Cores. Nunca me desceu aquilo. E ainda tinha cor do rival do bairro ao lado (Urca, Praia Vermelha...salve Tim Maia). Mas era um só.

Agora, parece que eu torço pra porra de uma equipe de Fórmula 1. Ou pior, porque se tu pegar uma foto do macacão da Ferrari, vai ver que a Thammy Gretchen usa quase só vermelho, branco e amarelo. Já eu, tenho que ver patrocínio de qualquer cor, patrocínio até no cu dos jogadores. O famoso esquema puta barata: pagando, rola o que você quiser.

Porcos desgraçados que foderam nosso futebol. E foderam com a mente dos torcedores. Agora, quem reclama é xiita. É romântico. É doente (sim, "torcedor doente" agora é ofensa!). Mas também, agora até ir pro estádio todo jogo é coisa de gente sem-noção.

Bonito é torcer por quatro times da Europa e dois do Brasil, sendo os dois lá da puta-que-pariu. Bonito é homem usar uma camisetinha apertada, listrada e com gola em V no umbigo. Bonito é ter um cabelo de palhaço, parecendo um espanador e pintado de laranja.

E eu nem vou falar de estádio. Não hoje.

Nariz. Beque e médico. Rompe as canelas pra depois arrumar.

O texto postado acima não é da autoria de Álvaro Lopes Cançado, o Nariz, e nem condiz com seu modo de pensar, (até porque ele não chegou a experimentar a atual realidade do futebol). O nome da coluna é apenas uma homenagem. E não condiz necessariamente com o pensamento do autor.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Danish Spirit



18-9-2011. Estádio Olímpico João Havelange.

Estava bastante afastado do estádio, mais de um mês, acho. A grana estava curta. Resolvi deixar pra voltar num clássico...se fosse pra faltar grana, seria em uma partida menos relevante. Enfim, isso tudo não importa por aqui. O legal foi com o que me deparei dentro da "arquibancada". Entre aspas, porque arquibancada pra mim não pode ter cadeira.

Cheguei um tanto em cima da hora, e a arquibancada Norte já estava "cheia". Não cheguei a ver o grupo de turistas chegando. Mas me diverti bastante com eles, assim como os outros que lá estavam.

As dinamarquesas são lindas, isso é algo pouco contestável. Eu olhava para o grupo e não conseguia achar uma que fosse feia. Mas eles são meio ruins de vibração. À exceção de um ou outro mais animado(talvez bêbado), se portavam como em um teatro. Aliás, é engraçado como a Dinamarca não tem clubes fortes, apesar de sua seleção ter alguma tradição. Mas esse também não é ponto em questão.

A questão realmente bacana foi descobrir a sensação maravilhosa que é explicar a realidade do meu futebol aos estrangeiros. Meu inglês é fraco, mas mesmo assim foi o suficiente para tal missão. No caso, a guia, carioca, foi bastante esperta, e fez uma "barreira" com idosos e homens, colocando as garotas bonitas no centro. Mas tal situação não me incomoda, estádio nunca foi lugar de arrumar mulher.

Calhou de eu ter ficado a partida toda conversando com uma coroa. Seus belos olhos azuis eram de uma grande simpatia, e ela mostrava muita atenção pelo que eu falava. Quando o jogo iniciou, porém, minha postura obviamente se tornou hostil, voltando ao normal no intervalo. Falei sobre o Loco Abreu, pensando ser essa a saída mais fácil me fazer entender. Nada, a nórdica sequer sabia sobre a Copa. Falei um pouco sobre copas antigas, pra explicar sobre o Garrincha, que ela igualmente não conhecia.

Não era pelo gênero, pois na Dinamarca a seleção feminina é boa. Eles simplesmente não se importam com futebol, acho.

Surgiu o gringo maluco, gritando os cantos que ele compreendia(ou achava que compreendia). Deram-lhe uma bandeira, uma camisa e dois chapéus, o cara vestiu e posou para foto, e no final ganhou em definitivo a bandeira. Coisa de carioca, acostumado que é com os turistas.

Um cara bandeirou sobre o grupo, brincando. "Gar inch a", a senhora dizia tentando repetir minha fala.

Mas o intervalo estava terminando, e eu voltei para a insanidade.Só poderia ser entendido pelos gestos e coreografias universais. Em um momento o jogo parou, e ainda pude explicar que aquele era um "town's derby". Considerou o público grande, os poucos mais de 20 mil pessoas. Tomou um susto quando falei dos públicos do velho Maraca. 

Eles saíram antes do fim do jogo, para evitar confusão. Eu fiquei na vontade de trazer mais gringos pra dentro do estádio. Quem sabe pro futuro.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Longa espera em Édson Passos

3-9-2011.Estação Édson Passos, Mesquita.

Era véspera de mais um ato da FNT contra o Ricardo Teixeira, e eu fui fazer uma panfletagem no Edson Passos. Era a abertura da Copa Rio, América x Madureira. Saí atrasado, e cheguei no fim do primeiro tempo.

O representante da FERJ havia mandado fechar o Giullite Coutinho. Ou seja, não conseguiria entrar, mesmo estando com o dinheiro do ingresso. E eu não era o único, outros foram barrados na entrada. Se os jogos já não tem muito apelo midiático, assim fica ainda mais difícil atrair público...

Entrei escondido, quase ao término da partida. Mas meu gosto por conversar tornou a espera na estação especialmente interessante. Outro gosto deste que vos escreve é de conversar com a "velha guarda". Eram três(o grupo era um pouco maior).

Uma senhora, que já havia cruzado certamente a casa dos 70, me contou sobre como torcedores levam aos mais novos o espírito do futebol.  No colégio próximo ao estádio, um grupo de contadores de histórias(existe inclusive um nivelamento por experiência e conhecimento) contam "causos" do América. "Edu Coimbra é o ídolo dessas crianças", me dizia ela. Eu como historiador, e com a veia do ensino, fiquei verdadeiramente fascinado. Tempos atrás cheguei até a sugerir ao "capo" da Ultras 1936(barra-brava do Auto) executar a mesma idéia em João Pessoa.

Fica a a dica aos leitores...como diria o baixinho de Cão de Briga(Unleashed), "pegue eles pequenos, e as possibilidades são infinitas".

Estavam lá mais dois senhores. Um, por volta dos 80 anos,me emocionou bastante ao tirar da carteira um recorte de jornal, acho que de 2011 mesmo,  com 3 americanos nas arquibancadas. Só. Ele era um. O rebaixamento era certo. Junto do outro coroa, esse bem mais novo e com um filho da minha idade, discorreram sobre as dificuldades de se encontrar produtos do time, e que por isso mesmo todos os lançados vendiam bem. Algo sobre variedade versus quantidade.

O homem era do início, acho que mesmo um dos fundadores da Torcida Inferno Rubro. Não vem ao caso falar de organizadas, mas eu achei muito bacana um caso que aumentou sua fama. 

Em um jogo contra o Fluminense, o América fora goleado. Hoje em dia isso não é (americanos que me perdoem) tão assustador, mas nos anos 80 era um resultado extremamente notável. Ainda mais no primeiro tempo. Enquanto os "amargos" saiam no intervalo, o cara pegou uma bandeira e foi para trás do gol, no espaço do Maraca reservado a eles. Por 40 minutos bandeirou, como me disse, bandeiras belas que hoje em dia não se vê entre a torcida do Diabo. Deu uma boa repercussão. Também falou brevemente das viagens e confusões Brasil à fora...

Surgiu um torcedor do Madureira e Fluminense, e ouviu um sermão homérico sobre "ter apenas um time no coração".

Mas claro, aquela era uma estação de trem. A Supervia controla elas. Alguma surpresa tinha que ter. Durante todo esse papo, um trem passou. Fechou no meio do nosso pequeno grupo, violenta e mesmo perigosamente.  Nisso, separaram-se de nós a senhora contadora de histórias, o tricolor misto, mas principalmente, separaram-se o pai e seu filho. Tudo bem, o cara não era uma criança. Mas mesmo assim, foi uma dor de cabeça violenta, porque cada trem demorava muito pra chegar. 

Tenho que voltar àquele estádio, conversar...

segunda-feira, 5 de março de 2012

O Racing de Ipanema


 
 
3-3-2012. Praia de Copacabana.
 
Estava eu em um quiosque em Copacabana, antes uma apresentação do Quinteto Solar, no qual meu pai é baterista. Enquanto o pessoal ia se aprontando para começar, eu fiquei olhando a orla.

Eu gosto do Rio de Janeiro em todos os seus pormenores, mas convenhamos, é realmente uma maravilha de cenário aquela praia. Até porque o céu escuro havia afastado os farofeiros e os turistas fanfarrões.

Ao longe, vi uma bandeira alvi-celeste. "Racing", dizia a parte de baixo. A de cima estava dobrada, e assim permaneceu por todo o tempo(e as muletas me impediram de me aproximar mais). Minha imaginação foi à mil.

Logo pensei num amistoso do Racing de Avellaneda com um time local. Meu pai me trouxe sua câmera, para que eu batesse umas fotos do som. Mas ela estava sem pilhas. Já não aguentei mais de curiosidade, e fui ver do que se tratava.

Chegando próximo, comecei a notar uma coisa estranha. Argentinos negros? Argentinos mulatos? Não, aquilo não era bem o que eu havia pensado. Talvez alguns jogadores tupiniquins pudessem estar no clube hermano. Sempre a imaginação fervilhando. E um pouco de esperança, também, porque não?

Mas no fim vi que o momento foi muito mais interessante. O jogo? Era oficial, acho...o juiz pelo menos se vestia como tal. Pelo que me disseram, era um campeonato de favelas (porque "comunidade" é nome moderninho e glamourizador). O time? " Ipanema Racing". O cara da foto? Alguém que estava na reserva, próximo a mim. Me pediu para eu não fotografar o rosto, em tom jocoso. Mas convenhamos, não faria sentindo capturar parcialmente o momento

Ipanema Racing, futebol de areia. Não tem nada mais carioca que isso.

Mais à frente havia um Juventus. Mas esse era clube de peso europeu, clube de Uefa Champions League. Não consegui ver tanta graça.
 
 
Juro que estava escrito "Ipanema" na faixa de cima...